sexta-feira, 13 de julho de 2012

Corte nos juros promove redistribuição da poupança

Aplicações de renda fixa devem ceder mais espaço para opções no mercado de capitais, diz o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, presidente da Quest Investimentos. O mercado de capitais e, por consequência, os investimentos produtivos vão ser bastante beneficiados com a redução continuada da taxa básica de juros, a Selic. "Os juros reais mais baixos forçam um reequilíbrio da poupança do país", disse o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-diretor do Banco Central e presidente e estrategista da
Quest Investimentos. Para ele, preocupa o Brasil estar hoje com inflação entre 4% e 5% em um ano em que o crescimento está em torno de 2%. "Não é um bom sinal. Com toda essa folga na economia, deveríamos estar com a inflação mais baixa", afirma, ressaltando que isso ocorre dado o ainda elevado nível de indexação da economia, e ao esforço recente do governo para aumentar taxa de câmbio. A seguir, os principais trechos da entrevista: Como a Selic no menor nível histórico pode impactar a economia, em especial o mercado de capitais? O juro real mais baixo certamente vai forçar uma mudança na forma do brasileiro alocar sua poupança financeira porque os juros reais devem ir para a casa dos 2% a 2,5%, bem abaixo do que prevaleceu nos últimos 20 anos. Um dos efeitos de uma redução importante do juro real é um novo equilíbrio da distribuição de poupança entre os ativos de renda fixa, ações e outros tipos de investimento. Qual a importância dessa redistribuição para o crescimento econômico no futuro? O mercado de capitais é o mecanismo pelo qual a poupança de famílias e empresas é canalizada para o lado do investimento. É o link mais importante entre essas duas variáveis macroeconômicas e fundamental em uma economia de mercado. Quanto mais desenvolvido o mercado de capitais, mais ativo é o processo de reciclagem de poupança. Quanto menos desenvolvido, temos menos eficiência e taxas de investimento baixíssimas. O Brasil já tem um mercado de capitais sofisticado, mas a maior parte da poupança está canalizada para títulos de renda fixa, ou seja, títulos que não participam do risco do investimento. Isso porque uma das características da economia brasileira sempre foi o juro real muito alto. Agora, com essa nova realidade, quer seja perene ou não, o processo vai se dar de uma forma mais eficiente e o resultado final é a elevação do nível de investimento. Há risco de esse patamar da Selic não ser perene? Taxa de juros reais elevada é uma espécie de antídoto contra flutuações muito frequentes e de grande amplitude de variáveis econômicas, principalmente da inflação. Quando tem uma taxa de inflação que flutua muito ao longo do tempo, taxa real alta acomoda essas flutuações sem que o investidor sinta. Já um juro real entre 2% a 3% não suporta uma flutuação da inflação ou da taxa de câmbio na mesma intensidade do passado. Uma taxa de juro menor vai exigir, principalmente do Banco Central, atenção e ação muito mais incisivas. Não podemos ter uma inflação de 7% em um ano e no outro, de 3%. É um avanço, uma situação que todo mundo gostaria que fosse perene, mas exige uma gestão da economia, principalmente do BC, muito mais responsável. Preocupa essa inflação de 4% a 5% em um ano de crescimento em torno de 2%? Não é um bom sinal. Com toda essa folga da economia, deveríamos estar com a inflação mais baixa. Mas nós sabemos que isso deriva ainda de uma indexação muito grande nos preços da economia, de uma correção da taxa de câmbio que o governo provocou. Se tiver uma retomada econômica no ano que vem, talvez o BC seja obrigado a controlar essa flutuação um pouco mais alta via juros. E para o ano que vem, o que o senhor projeta? A economia deve crescer a 4%, a inflação, ficar entre 5% a 5,2% e s Selic a 7,5% ao ano. Com isso, estaremos também com um juro real de 2%, o que é muito bom. Já há economistas vendo o juro básico a 7% ao ano... Aí acho que passamos para uma fronteira mais perigosa. Eu preferia trabalhar com a Selic em 7,5% a 8%. Mas, dependendo da fraqueza da economia, do cenário externo e da inflação, acho que o Banco Central pode até tentar limites mais baixos do que este. Não seria interessante ter juros reais nesse nível com inflação mais baixa? Mas para isso é necessário fazer uma série de reformas, mudar a indexação dos preços e isso é uma coisa que fica para mais adiante. Acho que a inflação agora entre 4% e 4,5% com juro real a 2% é uma boa combinação.

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